A santa do skate ia lá casa pela Páscoa (239)
Quando chegava aquele fraterno tempo de nozes e azevias, a Santa dos Rolamentos pegava no seu skate e percorria meio país até chegar a casa das pessoas. E chegando, sentava-se logo à mesa e ouvia-os enquanto comia e bebia. Não lhe davam tréguas e queixavam-se dos males do corpo e de todas as dores que os tinham afligido o ano inteiro. Os sofrimentos saíam dos baús como as restantes relíquias da família e apareciam a brilhar nos distintos peitos das tias, nos pulsos dos tios, nos decotes das afilhadas e dos restante elementos comensais que se juntavam a comemorar a efeméride. Era um ai Jesus, sentados à mesa do fartote, com a Santa a comer e a beber. Copos de vinhos e fazendas caras de fazer fatinhos, doces feitos com a mesma mão que fazia a caridade de limpar os cus dos que o já não podiam limpar. E quanto à Santa, se não estava a comer ou a beber, estava, certamente, a dormir no sofá de veludo vermelho, ou a olear as rodas do skate, ou a ouvi-los com tudo aquilo que traziam na alma. Escutava de boca cheia as mazelas de domínio geral, os padecimentos e as perdas, os suspiros variados e assimétricos, as pequenas enfermidades de borbulhagem e o resto que são as cores com que os outros os pintavam. Ah, a família desfrutava da quadra feliz e a santa que gostava de sopa de peru, esticava o pucarinho com um sorriso avermelhado de satisfação a pedir mais. E figos, ainda os há? Perguntava a rematar.
Comentários