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Eles abriram a porta que dava para o quintal. O ar tinha sido aromatizado pelo zimbro, pelo rosmaninho e outras flores do tempo. À porta já lá estava o tio mais velho a fumar. Usava um desportivo cachecol vermelho com insígnias e segurava um cão de caça pela trela. O cão obediente estava sentado. O campo recebeu-os a todos com um olhar invernoso. Cumprimentaram-se e puseram-se a caminho. Contornaram o monte de lenha que havia em frente à casa e subiram até ao topo de uma elevação entre as árvores despidas de folhagem.

Em casa ficaram a Demetilia e as criadas. A Demetilia andava atarefada guardando desejos em frascos de vidro. Colava-lhes rótulos onde escrevia rigorosamente datas e outras referências. Rolhava-os com precisão e dava ordens para que os guardassem na despensa fria. Dizia, comem-se quando chegar o Verão. Bandos de pintassilgos voavam pela casa entre a cozinha e uma enorme sala que existia no piso térreo.

Quando ao fim da tarde Demetilia se entretinha com preparos de iguarias culinárias tocaram à porta. Julgou ela tratar-se dos seus que regressavam do campo e por isso ficou aflita. Limpou as mãos num pano e lambeu a ponta de um dos dedos enquanto se dirigia à entrada. Lá fora estava um homenzinho vestido com uma farda cinzenta que trazia no enrolo do braço um embrulho de correio. Demetilia, sempre prestável, convidou-o a entrar, ofereceu-lhe uma bebida quente e abriu dois frasquinhos de bons espíritos que trazia na bolsa do avental. Fez um gesto circular no ar em volta da cabeça do homem e os pintassilgos pousaram-lhe na cabeça. Os três gatos da casa enrolaram-se nas suas pernas. O homem entregou o pacote, despediu-se e saiu sem demora.

Demetilia abriu a caixa e de lá de dentro saíram dois patos cantores e um marinheiro ruivo. Demetilia riu-se e levou-os para junto da lareira.

 

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